Joinville, 16 de setembro de 2013 - PUBLICAÇÕES ONLINE
Os Juizados Especiais Cíveis da área central da comarca da Capital já
contabilizam o ingresso de mais de 42 mil ações de consumidores em
busca de indenizações pela inclusão não autorizada de seus nomes nos
chamados rankings de crédito, instituídos por empresas como Serasa e SPC
para alegadamente auxiliar comerciantes na identificação de bons
pagadores.
O juiz Antônio Augusto Baggio e Ubaldo, titular do 1º Juizado
Especial Cível e diretor do Foro Desembargador Eduardo Luz, classifica
este número como preocupante e trata a busca por justiça neste caso como
um fenômeno coletivo que, na prática, coloca em risco e pode até
inviabilizar a prestação dos serviços cotidianos daquela unidade
jurisdicional. ”Os registros indicam que ingressam diariamente mais de 2
mil ações desta natureza; em muito pouco tempo nosso trabalho por aqui
estará quintuplicado”, calcula o magistrado.
Ele recorda que ainda neste ano, antes deste boom, o acervo do
Juizado estava em 5 mil processos. Embora considerável, pondera, era um
movimento que recebia atendimento em prazos razoáveis. “Se uma ação
podia ser julgada em até 60 dias, naquele período, outra ajuizada neste
momento pode levar até 18 meses para ser apreciada”, estima. O primeiro
órgão afetado pela enxurrada de ações é o setor de distribuição, local
responsável pelo ingresso dos processos e que atende também as demais
varas do Fórum: juizado criminal, duas vara da família, vara da infância
e juventude, vara de sucessões e auditoria militar.
“O problema não se resume aos juizados”, alerta o servidor Rafael
Lopes da Rosa, distribuidor judicial em exercício. Ele explica que o
grande volume de ações do ranking faz com que sua equipe precise se
redobrar para dar conta do movimento e garante que já precisou chegar
antes do horário do expediente –- e sair depois dele -– para tentar
colocar a parte mais urgente do serviço em dia. “O ingresso de ações
para as demais varas também é afetado, pois todas precisam passar por
aqui”, explica. Para se ter ideia, as Varas da Família, responsáveis por
atender pedidos de pensão alimentícia, por exemplo, registram média de
ingresso de 50 ações por dia.
“Peço um pouco de cautela ao jurisdicionado neste afã em busca de
seus direitos, principalmente por não ter havido ainda uma sinalização
dos tribunais superiores sobre a forma de tratar esta matéria”,
aconselha o juiz Ubaldo. O problema já atravessou a praça e chegou ao
Tribunal de Justiça. O presidente do TJ, desembargador Cláudio Barreto
Dutra, determinou abertura de processo administrativo para regularização
da Distribuição Judicial naquele Fórum.
Para isso, será elaborado diagnóstico de trabalho e apresentada
proposta de enfrentamento pela Assessoria de Modernização da
Diretoria-Geral Administrativa (DGA). “Todavia, como não há cargos de
servidores efetivos passíveis de distribuição neste momento – tramita
projeto de lei para isso na Assembleia Legislativa – não há como tirar
servidores de outros lugares para alocar ali”, explica o juiz André
Alexandre Happke, assessor especial da presidência.
Ele refere a necessidade de compreensão da população neste momento e
lembra que o Judiciário já enfrentou situações semelhantes no passado,
como no caso dos processos que questionavam a assinatura mensal básica
das companhias telefônicas, e cumpriu com seu dever em atender uma
demanda de massa.
“Tirar servidores de outros locais para atuar ali na distribuição
seria tirar de varas criminais, da infância, da família e outras, cuja
emergência de atendimento não permitiria o remanejamento”, pondera. Cada
servidor a mais atuando ali, acrescenta, representa nova despesa
pública para o contribuinte. Segundo o magistrado, nenhum cartório
distribuidor do Estado suporta a entrada de 2 mil ações por dia.
“Felizmente já são todos processos digitais, há menos impacto
ambiental e essas demandas aproveitarão os benefícios da tramitação
digital assim que vencidas essas etapas de volume numérico. Caso ainda
fossem físicos, só em capas, papeis, grampos e tonner de impressoras, o
Poder Judiciário gastaria com esses 42 mil feitos, aproximadamente R$ 1
milhão.
Isso reforça a necessidade de instalação do SAJ5/Processo
Digital, que está em expansão em nosso Estado”, finalizou o juiz Happke.
FONTE: TJSC
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