Joinville, 11 de junho de 2014 - PUBLICAÇÕES ONLINE
A Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve decisão
que reconheceu o direito real de habitação a companheira em ação de
manutenção de posse ajuizada antes mesmo do pedido expresso de
reconhecimento de união estável.
Após a morte do companheiro, uma mulher moveu ação com fundamento no
direito real de habitação, pois recebera notificação para desocupar o
imóvel onde morava com o falecido.
O juízo de primeiro grau acolheu o pedido de manutenção de posse.
Segundo o magistrado, a autora comprovou que ela e o companheiro
mantiveram relação duradoura, contínua e com objetivos voltados para a
constituição de família, satisfazendo os requisitos previstos no artigo
1.723 do Código Civil (CC).
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul manteve a sentença. Em seu
entendimento, a posse da companheira é legítima e de boa-fé.
Comprovação
O espólio do falecido recorreu ao STJ. Sustentou que não houve
comprovação da união estável em ação própria e que nem mesmo foi feito
pedido de reconhecimento dessa união. Por isso, não haveria direito real
de habitação ou posse legítima sobre o imóvel.
Afirmou ainda que sempre houve impedimento para que o falecido se
casasse com a autora, por causa de casamento anterior que não foi
dissolvido formalmente. Além disso, mencionou que o reconhecimento do
direito real de habitação à companheira “compromete a legítima dos
herdeiros” e cria vantagem para ela em relação à esposa, caso exista
mais de um imóvel residencial a inventariar.
O ministro Luis Felipe Salomão, relator do recurso especial, explicou
que, nos termos do artigo 1.784 do CC, com a abertura da sucessão
hereditária, há transmissão automática e imediata de todas as relações
patrimoniais aos herdeiros (droit de saisine), inclusive a posse e a
propriedade do patrimônio pertencente ao falecido.
Com base em entendimento pacificado no âmbito do STJ, ele disse que a
companheira sobrevivente “tem direito real de habitação sobre o imóvel
de propriedade do de cujus em que residia o casal, mesmo na vigência do
atual Código Civil”.
Direito à moradia
Segundo o ministro, esse entendimento assegura a máxima efetividade
do direito à moradia do cônjuge ou companheiro sobrevivente,
“garantindo-lhe um mínimo existencial e, de alguma forma, acabando por
mitigar os poderes inerentes à propriedade do patrimônio herdado pelos
sucessores”.
Salomão mencionou precedente da Quarta Turma, segundo o qual a
constituição do direito real de habitação do cônjuge sobrevivente emana
exclusivamente da lei, “sendo certo que seu reconhecimento de forma
alguma repercute na definição de propriedade dos bens partilhados. Seu
reconhecimento não precisa necessariamente dar-se por ocasião da
partilha dos bens deixados pelo de cujus” (REsp 1.125.901).
“É por isso que a sentença apenas veio a declarar a união estável na
motivação do decisório, sem repercussão na parte dispositiva e sem
alcançar a coisa julgada, mantendo aberta eventual discussão no tocante
ao reconhecimento da união estável e seus efeitos decorrentes”,
ressaltou o relator.
O ministro considerou que a posse da ex-companheira deve ser mantida,
“uma vez que o direito real de habitação está sendo conferido
exatamente para aquela pessoa que residia no imóvel, que realmente
exercia poder de fato sobre a coisa, isto é, a proteção possessória da
companheira foi outorgada à luz do fato jurídico posse”.
A decisão foi acompanhada por todos os ministros do colegiado.
O número deste processo não é divulgado em razão de segredo judicial.
FONTE: STJ
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